TRILOGIA CUIABANA )ossatura da cuiabania(
“Este volume 3 apresenta a territorialidade como vanguarda e inovação, uma vez que trata-se da produção singular de um poeta que participou das bases do Intensivismo – movimento literário gestado em Cuiabá –, contribuindo para a conformação inicial das vanguardas brasileiras do Concretismo e do Poema//Processo e que contribui para a literatura nacional por meio de um caminho próprio.
Um diálogo-entrevista intercalado por croni-contos-poemas vai expondo ao leitor a ossatura cuiabana. Entendemos que o sentido da palavra ossatura propõe uma analogia ao conjunto de ossos que sustenta o corpo humano, estrutura móvel, dinâmica, que sustém um todo em busca de equilíbrio. Nesta obra, Silva Freire disseca, interpreta e projeta, em detalhes, o processo cultural e histórico desta região até expor a sua ossatura, a anatomia de um povo.
A Trilogia cuiabana, que ora se completa, resulta da indignação, resistência e (des)cobrimento das pulsões soterradas pela modernidade/colonialidade. Nos três volumes o poeta e a cidade se fundem em um trabalho poético-amoroso-etnográfico no esforço de tirar do silêncio, do encobrimento, da subalternização, do abandono, a riqueza epistemológica do homem do sertão mato-grossense, e a subjetividade cuiabana que se traduz no chão das experiências telúricas, na audição e registro do “poema sonoro que este povo fala” – o linguajar cuiabano –, nas múltiplas vozes dos anônimos doadores de Cuiabania. Em outras palavras, “fidelidade telúrica” para com sua cidade, entendida como um complexo conjunto poético, cultural e social no entrecruzamento dos modos de ser e viver “tradicionais” e a avassaladora modernização necessária, como a identificaram Leite & Spinelli. Portanto, uma crítica cultural à cidade que se moderniza. Modernização que não pode deixar à margem as marcas cognitivas do processo histórico da Cuiabania. Marcas que são fundamentais para dar sustentação aos avanços civilizatórios em marcha, porém sem perder o chão da história. Engana-se quem pensa que o termo Cuiabania se resume a tradição, pelo contrário, ele se encontra no fluxo do processo civilizatório a partir das vivências contemporâneas alertando, como disse o poeta no volume 1 desta trilogia: “não se tapa o passado, goteira-o, por entre dentes...” Larissa Silva Freire Spinelli e Célio da Cunha
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SILVA FREIRE
Nas décadas de 50 e 60 participou de movimento político, estudantil e artístico-cultural nacional e estadual, por um idealismo socialista trabalhista, em defesa da democracia e dos direitos fundamentais do cidadão.
Colaborou para a formação cultural brasileira e para história política, educacional e literária mato-grossense, tendo sido preso e cassado em seus direitos políticos pela ditadura militar na ocasião da Revolução de 31 de março de 1964. Injustamente, suas ideias progressistas, socialistas e nacionalistas foram alcunhadas de comunistas. Quatorze anos após sua cassação foi reintegrado ao quadro docente da UFMT no ano de 1980.
No campo da literatura, foi um dos fundadores do Intensivismo, movimento literário de vanguarda. Foi membro da Academia Mato-grossense de Letras. Suas pesquisas poéticas de abordagem etnográfica e sociológica resultaram em um mapeamento memorialístico “rurbano”, com as primeiras produções publicadas em jornais e revistas literárias na década de 1950, poemas publicados em doze Cadernos de Cultura na década de 1960 a 1970 e o primeiro livro de poesia, Águas de Visitação, publicado em 1979.
Publicou: Silva Freire: Social, Criativo, Didático (1986); Barroco Branco (1989); Depois da Lição de Abstração (1985); Trilogia Cuiabana, volumes 1 e 2, organizada por Wlademir Dias Pino (1991); 13 Cadernos de Cultura, em páginas avulsas em datas diversas; Águas de Visitação (1979), reeditado em 1980, 1989 e 2002.