Várias vezes prendi o folego. Em especial quando me comunicou a tardia descoberta de não ser o amor essencial. Quero também ter a cumplicidade do vinho porque “Minhas veias estão guardando / fartas solidões...”.
Para o meu olhar de médico o título Veias esgarçadas é um soco.
Remete a momentos angustiantes em hospitais, aquela hora em que o paciente grave apresenta as veias
extremamente manipuladas, gastas, quase imprestáveis para se obter um acesso para aplicar o soro imprescindível à sobrevivência. [...]
Para o meu olhar de poeta uma inveja luminosa de seus versos lacradores. Com brilho próprio no seio do poema. Às vezes de construções inusitadas como “Não devia ser assim. / todavia fora.” ou “Você e eu somos uma pressa?” [...]
Que versos... o cru mundo externo fazendo contraponto ao seu sombrio íntimo: “O cão imundo devora / um naco de carne imprestável”, “É uma aflição um menino extraviado”.
Ou num romantismo distante léguas de clichês:
“Segurava tuas próprias mãos,
bem sabias, / na ilusão de
que fossem as minhas...”
“E tantos já pisaram em nossos passos
/ impressos neste caminho da orla.”
O mais belo verso erótico que li nos últimos tempos: “Quantas vezes nem respirávamos, / a fim de capturarmos os mínimos ruídos do amor / que fazíamos”.
Ivens Scaff
FÁBIO GUIMARÃES
FÁBIO CÉSAR GUIMARÃES (1953) nasceu em Guiratinga, na região leste matogrossense e se declara ateu convicto. Foi apresentado a Neruda e às obras completas de Cecília Meireles por seu pai, o poeta-escritor-magistrado-mestre João Antônio Neto. A poesia o alimenta desde então. As pessoas o conhecem por sua atuação política na OAB, quando advogado, como professor de Direito Penal na Faculdade de Direito da UFMT – sua paixão –, e como defensor público de segunda instância... E não imaginam que entranhado em seu mais profundo “eu” mora um poeta anárquico, inquieto, irônico, revoltado, romântico e brincalhão – que adora pássaros, aprecia Kafka, García Márquez, Pessoa, Baudelaire, Allan Poe, Nietzche e os modernistas brasileiros da segunda e terceira gerações – Vinicius, Drummond, Oswald de Andrade, além de Leminski, Chacal... Nessas fontes sorveu palavras, poesia e reflexões existenciais. Começou a publicar alguns poemas esparsos no “Sacos & Gatos”, que circulava nos bares do Coxipó, na década de 1980, em Cuiabá, junto com os primos-poetas-artistas Eduardo Ferreira e André Balbino, e ícones como Silva Freire e João Antônio Neto, entre poetas que vivenciavam uma contracultura transgeracional. Desde então engavetou, durante décadas, toda a sua poesia, que agora vem a público e se revela como uma lufada de ar fresco.
Maria Teresa Carrión Carracedo